quinta-feira, abril 01, 2010

A culpa é do sobrinho - parte II

Em meio as manifestações dos colegas, mais considerações sobre o mercado:

Silvana, amigos e sobrinhos,


A ironia é essa mesmo: "culpa do sobrinho" é o jeito que algumas pessoas justificam a sua ineficiência em compreender o valor de seu trabalho como ilustrador.
É óbvio que nenhuma editora, cliente, ou produtora, poderá sobreviver no mercado hiper-competitivo (e agora globalizado) se não puder contar com arte exclusiva e de qualidade.

Parece que só os ilustradores não sacaram isso ainda.

Não se cobra uma arte pelo número de pixels, ou tinta usada, ou tamanho do papel. E sim pelo seu USO COMERCIAL.

Vender uma arte à 20 pilas revela uma total ignorância do mercado. É apenas amadorismo. Um jeito de começar a cobrar melhor e poder de fato viver de arte com dignidade e perspectiva de futuro é largar a preguiça de lado e começar a estudar sobre:

LICENCIAMENTO
DIREITOS AUTORAIS
MARCAS E PATENTES
PROPRIEDADE INDUSTRIAL
MERCADO DE ARTE
MERCADO EDITORIAL
PUBLICIDADE

Que bom que na Internet tem tudo, é só Googlar.

Cobrar 20 pilas é queimação de filme (de quem vende e de quem compra).
Um amigo meu (gosto de coração mas fala cada besteira) disse que se aproveita de ilustradores que pensando como "sobrinho", se deixam explorar por pouco. Ele usa o fato de que pensam que por serem novatos são obrigados a comer merda. Ele usou essa expressão mesmo: "fico ganhando às custas deles, e deixo eles comerem muita merda..."
Fiz uma cara feia pra ele, secretamente peguei o nome do coitad...quero dizer "ilustrador" que ele entrevistara, pra avisar o mané depois: Fabrício Alves, de Duque de Caxias.
Aí tentei explicar pra ele que ser novo ou velho na área não tem NADA A VER com valores cobrados.


O valor da ilustração é determinado pelo seu USO COMERCIAL.

Em miúdos:

Se a ilustração vai pintar o bolo da festinha da sobrinha, pode custar R$ 20,00... pode até custar um bônus-bolo.
Se a MESMA ilustração vai ser capa de CD de música, com tiragem de 3000, e outras subsequentes... R$1.000,00 é um bom começo.
Se essa banda for o Gays and Poses... R$ 10.000,00 é um bom começo...

O USO COMERCIAL, o RETORNO FINANCEIRO pelo USO da ARTE é que determina o valor. Isso porque o lucro que vem da produção artística é regido pela LEI DOS DIREITOS AUTORAIS. Um benefício de 200 anos, porque mesmo a 200 anos atrás, a turma se tocou que a coisa mais importante para o desenvolvimento de um país é a sua CRIATIVIDADE.

Por favor turma sobrinhesca, se empenhem em manter a chama da sabedoria acesa. Nivelar por baixo, na base do barateamento é ruim pra todos, até pra turma que pensa que está se dando bem, que são os maus empresários... o que me faz voltar a historinha de meu amigo querido que gosta de ver ilustrador novato comendo cocô...

Exatamente por ter esse tipo de postura...é que ele é tratado assim pelo CHEFE DELE!!! Um milionário que a mais de dez anos não lhe concede um aumento. O salário dele, sendo a pessoa mais importante da empresa (se ele pedir demissão o lugar FECHA por que só ele sabe fazer a josta funcionar), é menor que o de um NOVATO COMEDOR DE MERDA das empresas concorrentes.

Vê..? É um ciclo vicioso, que quanto mais rápido se pular fora dele, melhor pra todos.
Inseguro quanto ao dinheiro?

Melhore a qualidade do trabalho, junte-se a colegas pra pegarem trabalhos grandes, busque outros caminhos: cursos, camisetas próprias, licencie a arte mas não abra mão do uso dela pra outros clientes (como um banco de imagens pessoal)... Saber gerenciar suas artes é essencial. Ou acredite, corre o risco de ficar como alguns VETERANOS, de barba branca, e sem dinheiro pra plano de saúde, porque descobriram tarde demais que se não souberem cobrar o preço certo, não é com o TEMPO que as coisas vão melhorar.

Se eu bater na porta da Ediouro pra vender arte pra Coquetel, eles NÃO VÃO me pagar mais do que os 35 merréis só porque tenho quase uma centena de livros ilustrados, artes expostas na europa, currículo de fazer chorar de emoção as tias da arte... Eles só irão pagar bem quando acabar essa farra burra de cobrar esmola de uma editora que sabe muito bem o valor verdadeiro destas artes.

Já parou pra pensar no lucro que ela ganha com as revistas? E se pagassem bem aos artistas? Como isso iria afetar como o orçamento?

É fácil fazer esse cáculo:

Se a tiragem da Coquetel for 100.000 (na Ediouro eles costumavam cancelar qualquer publicação com tiragem menor que isso) pega teus R$ 35,00, ou R$20,00 e divide por 100.000. Aí você vai saber o que sua arte representa no preço de capa do título. Um cisco.

Mas, como pra cada um que diz "não sou mané" tem meia dúzia de sequelados que dizem "sim, monta nas minhas costas", a solução pra que isso melhore é que os "novatos" e "veteranos com crise de auto-estima" PAREM de cobrar tão pouco, que tentem abrir mão de uma vidinha miserável, mal pagando aluguel de kitinete, sem dinheiro nem pra birita... Que procurem se acostumar a uma vida digna, pagando bem as contas, viajando de vez em quando... Deve ser mesmo difícil ser feliz, já que tem tanta gente "pagando caro" pra sofrer...

Abram o olho e fechem a mão...
Recomendo a leitura o www.guiadoilustrador.com e dos blogs e sites da Silvana Larques, do Hiro, do Montalvo, do Mota...enfim... boa leitura, arte e fartura pra todos!

Um comentário:

Rodrigo Arraya disse...

Oi Thais, tudo bem?
Muito bom este post!!! Te encontrei pq vou ver sua mesa redonda dia 21 aqui em SP, e queria conhecer seu trabalho. Sobre o seu post, incrivel! Ontem, na 1ª mesa do Ilustre o Montalvo tocou muito neste assunto, e concordo totalmente com vcs dois! Sei que é uma luta diária e dificil, e é muito legal ver vcs encarando de frente. Parabéns!!!
Rodrigo Arraya
http://rodrigoarraya.wordpress.com